


Conheça Hilary Bunker
Hilary Bunker é uma profissional de vídeo que trabalha atualmente na Fifa. Com mais de dez anos de experiência em produção de conteúdo voltado a esportes, música, eventos e transmissões ao vivo, já atuou em diferentes partes do mundo. Criou materiais dinâmicos para esportes como rúgbi e futebol. Entusiasta da inovação, da presença feminina no esporte e de narrativas que geram impacto, Hilary tem como missão usar o audiovisual para promover mudanças positivas.
1. Qual é sua função atual na Fifa e o que motivou sua escolha por uma carreira em edição e produção de vídeo no setor esportivo?
Atualmente sou gerente de relacionamento de conteúdo na área de produção da Fifa, depois de cinco anos como editora no departamento de filmes da entidade.
A produção de conteúdo da Fifa é responsável por registrar, arquivar e comercializar imagens audiovisuais de todas as competições e eventos relacionados à federação, cobrindo algumas das maiores e mais emocionantes partidas de futebol do mundo.
Desde criança, eu queria trabalhar com algo que unisse música, mídia, esporte e eventos ao vivo. Não sabia exatamente qual profissão permitiria isso. Depois da universidade, explorei diferentes caminhos, mas sempre buscava formas de me reconectar com o que realmente me inspirava — fosse ao trazer criatividade e música para funções que não exigiam isso ou ao me arriscar em transições de carreira que me aproximassem das minhas paixões.
Fui treinada na França como jornalista de vídeo para telejornais, uma formação que considero essencial: ambiente de alta pressão, prazos curtos, grandes exigências. Você aprende a se virar sob as condições mais difíceis. Mas percebi cedo que queria trabalhar com esportes e eventos ao vivo, o que me levou ao universo do rúgbi no Reino Unido.
2. Na sua atuação como editora de vídeo, qual é o papel da música no processo de edição? Como você a utiliza para valorizar seus projetos?
Quem me conhece sabe o quanto a música é essencial para mim e para o meu processo de edição. Ela é tudo — muitas vezes, é o primeiro passo (ok, talvez o segundo, depois do briefing inicial). Uma única faixa pode definir toda a direção criativa de um vídeo.
O ritmo, a batida, o andamento — tudo isso ajuda a construir o clima e a emoção certos. A música tem o poder de transformar momentos esportivos icônicos em cenas inesquecíveis. O tal do “fator uau” costuma vir daí.
Lembro até hoje de uma edição da BT Sport, em 2016, com um remix de All Goes Wrong, de Chase and Status com Tom Grennan. Eu estava começando como jornalista de vídeo e editora, e aquilo me arrebatou. A edição era simples e inteligente, e a música me arrepiou. Pensei: “É isso que eu quero fazer. Quero provocar sentimentos nas pessoas com as histórias que tenho para contar.” O vídeo está disponível abaixo.
3. Há algum projeto do qual você se orgulha mais?
Tive a sorte de participar de projetos diversos, alguns difíceis, outros empolgantes, todos marcantes. Fui treinada no jornalismo, atuei como freelancer em esportes e música, até chegar à Fifa, em uma trajetória bastante plural.
Um dos projetos dos quais mais me orgulho é um documentário que produzimos após a Copa do Mundo Feminina de 2019. Não era apenas sobre o torneio ou o futebol, abordava também questões mais amplas, ligadas à seleção feminina dos Estados Unidos na época. Cada cena, cada fala, cada escolha musical foi feita para potencializar essas histórias e emoções. Foi especial fazer parte de algo tão relevante e em crescimento.
4. Quais são os maiores desafios da sua área e como você os enfrenta?
Um dos principais desafios é lidar com a dúvida, tanto a dos outros quanto a minha. Saber o próprio valor é fundamental. Estar cercada de pessoas que acreditam em você faz toda a diferença. Quando você se questiona, são essas pessoas que te lembram do que é capaz.
5. Você acredita que a representação feminina no esporte evoluiu? Como tem sido sua experiência como mulher nesse setor?
Sem dúvida, houve avanços. Já não é estranho ver mulheres operando câmeras à beira do campo ou atuando em ilhas de edição, o que é ótimo. Mas ainda há muito a ser feito.
Tive mentoras importantes, que me ajudaram a ganhar confiança e a ignorar as dúvidas que surgiam ao ser a única mulher numa sala ou ao me sentir fora do lugar. Já fui ignorada, já precisei insistir mais para ser ouvida. Mas ser mulher é uma vantagem. Perspectivas diferentes são necessárias e isso se reflete no conteúdo e em como o esporte é contado. Caso contrário, como as narrativas e os estilos vão evoluir?
6. Que conselho você daria para outras mulheres que querem seguir carreira em produção e transmissão esportiva?
- Confie na sua capacidade.
Se você for uma das únicas mulheres numa sala cheia de jornalistas disputando entrevistas, mantenha-se firme. Seu lugar é ali.
- Busque conexões.
Procure pessoas que você admira no setor, homens ou mulheres. Pergunte como chegaram onde estão. Peça conselhos, mentoria, orientação. Se você tem ambição e garra, isso vai se destacar.
- Encontre seu diferencial.
Um dos meus primeiros trabalhos na Fifa foi a Copa do Mundo Sub-20 Feminina de 2018. Precisavam de alguém que filmasse, editasse, produzisse e falasse francês e inglês. Às vezes, de cada 100 candidatos, 99 são homens, mas, se você se destacar, aproveite. Ser mulher não é desvantagem. Encare isso como um trunfo.